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Página acrescentada em 11 de agosto de 2025.
 

Venina Cunha


Nascimento: 30/11/1899  -  Falecimento: 28/08/1983

1931

Venina Piquet venceu três das seis provas automobilísticas que disputou oficialmente.
É considerada a primeira mulher a vencer uma prova automobilística no Brasil. A tempo, ela não é parente de Nelson Piquet, pelo menos é o que ele diz.
Nasceu em 30 de novembro de 1899 (segundo o FamilySearch.org) no Rio de Janeiro, e não em Mato Grosso como está no artigo escrito por Jason Vogel no site "https://motor1.uol.com.br//", que me serviu de roteiro.

Venina tirou sua carteira de habilitação aos 27 anos de idade (em 1926) numa época em que pouquíssimas mulheres assumiam o volante de um automóvel.
Filha de militar e casada com o comerciante Francisco Dias Teixeira, atleta amador do Vasco da Gama, com quem teve apenas um filho: Jorge Piquet Teixeira em 1926.

A Noite 18/05/1931

Ela passou uns tempos doente e prostrada, sem forças sequer para andar. Recorreu a médicos e até curandeiras, até conseguir uma que a curou em 1931.

Ford Tudor

Poucos anos depois, ao ganhar um Ford Tudor sedã, duas portas,(1933/1934) do marido, descobriu o gosto pela velocidade,

Em 21 de outubro de 1934, a Associação Sportiva Automobilística Brasileira (ASAB) promoveu uma gincana seguida por uma prova de arrancada, à sério, no  Recreio dos Bandeirantes.
Estimulada pelo marido, Venina (aos 35 anos) inscreveu seu Ford Tudor placa P-19-554 do Rio de Janeiro (então capital federal)..

Primeira prova e primeira vitória

Os Ford Tudor eram bastante rápidos para a época, o petropolitano Irineu Corrêa, um dos maiores pilotos brasileiro da época, corria com um Ford desses transformado em monoposto (ou seja, aliviado da carroceria).

Carro de Irineu Correa










Pelo regulamento da prova, era preciso acelerar em uma reta de 500 metros e, daí, havia 20 metros de frenagem até a parada total do carro. Quem fizesse no menor tempo, ganhava!
E com muita perícia Venina conquistou o primeiro lugar, sendo 2,5 segundos mais rápida que o segundo colocado, Nicolino Guerrera, que pilotava um Autoplano (nome que se dava aos Hudson Terraplane no Brasil).
"Primeira victoria official de uma 'chauffeuse' brasileira", trombetearam as manchetes dos jornais cariocas nos dias seguintes
Ao ganhar a primeira prova automobilística de que participava, a automobilista foi muito festejada tanto pelos adversários como também pelo público, especialmente as senhoras e senhoritas que foram até aquele recanto distante, acompanhar a competição.
"O triunfo foi brilhantíssimo pois, a par das excelentes condições técnicas com que madame Venina Piquet Teixeira o conquistou, serviu também para inscrever o seu nome como o da primeira mulher vencedora de uma corrida de automóveis no Brasil". (Diário Carioca).

Pouco depois, em 8 de dezembro de 1934, o Automóvel Club do Brasil patrocinou uma corrida na Ilha do Governador. Eram dez voltas, com um total de 60 quilômetros. Tendo seu marido como ajudante, Venina conquistou sua segunda vitória, terminando a prova em 46'12".
"O seu novo triunfo é bastante significativo para a sra. Venina Piquet Teixeira, pois derrotou o franco favorito, Antonio Ribon, elemento que se achava bastante treinado no circuito - que a corredora carioca não chegou a percorrer antes da disputa". (Correio da Manhã).

Em 16 de dezembro de 1934, apenas uma semana depois da corrida na Ilha, foi promovido o Criterium Carioca de Velocidade, uma prova de quilômetro lançado em plena Vieira Souto, a avenida que beira a Praia de Ipanema. O percurso ia do Jardim de Allah (que na época era chamado apenas de "canal da Lagoa Rodrigo de Freitas") até o Arpoador. Os competidores tinham 450 metros para ganhar velocidade e, daí, 1 Km a ser percorrido no menor tempo possível.
Muito aguardada pelo público, Venina já começava a se tornar celebridade, ela já era
"a maior expoente atual do automobilismo no Brasil, pois que, nas únicas provas em que participou saiu sempre vencedora". Segundo os jornais.
"Ela espera não ser a única mulher a disputar a corrida, pois acredita que há no Rio muitas chauffeuses capazes de alinharem-se com ela",  (O Jornal).
O regulamento era para carros fechados, que não podiam ser aliviados em nada. Além disso, a competição era com calejados automobilistas da época, como Julio de Moraes, Rubem Abrunhosa e Primo Fiorese - além de José Santiago, que preparava o motor do Ford de Venina. Mesmo assim, ela conseguiu ficar em quinto lugar entre os 14 inscritos na categoria "Turismo de 3 a 4 litros".

 

Rio-Petrópolis pronta para o Quilometro Lançado Brasileiro 1935

 

Chegou então a vez de disputar o Quilometro Lançado Brasileiro, em 31 de março de 1935, na estrada Rio-Petrópolis.
Era uma prova de velocidade com ampla cobertura na imprensa. Pelo regulamento, o Ford V8 enquadrava-se na categoria carros de 1.600 a 3.650 cm³" e disputaria o prêmio República do Uruguay.
Desta vez, em vez de levar o marido, Venina foi acompanhada da filha do piloto e preparador José Santiago. O Ford Tudor  pesava em torno de 1.150 quilos. e preparado por Santiago tinha algp mais que os 85cv originais.
Venina percorreu o retão de um quilômetro, teve que se desviar de um pedestre, mas, mesmo assim sentiu que tinha feito um ótimo tempo. Só que, por uma falha da cronometragem oficial, não teve seu tempo medido oficialmente...
Vários cronômetros particulares mostraram que a piloto sairia vencedora desta categoria. Diante do impasse e em apoio a Venina, os outros corredores invadiram a pista em sinal de protesto. A solução foi refazer a prova dali a algumas semanas.
"- No dia da corrida, ante as falhas existentes, os concorrentes se sublevaram e a prova teve que ser refeita." Diario Carioca (16/04/1935)

Quilometro de Arrancada Rio - Petrópolis

Vencendo o Quilometro de Arrancada

No dia 14 de abril de 1935, o trânsito da Rio-Petrópolis foi fechado novamente. E, mais uma vez, Venina foi a mais rápida, percorrendo o quilômetro em 26"04 (à média de 138,2 km/h). Em segundo lugar ficou Willy Borghoff, com seu Adler Trumpf de corridas (28"74). Rubem Abrunhosa, grande volante da época, ficou em 4º, com uma Bugatti (29"83).

A arrojada Venina não tinha medo?
"- Morre-se no ônibus, no carro de passeio etc. Nas corridas, o cuidado é levado ao máximo. Não se pisa o acelerador sem um raciocínio premeditado." - explicou em uma entrevista.
E sempre que lhe abriam espaço nas páginas dos jornais, ela tentava convencer outras mulheres a correr:
"
- A questão não está na falta de ânimo esportivo, nem na ausência de coragem, pois a mulher brasileira não teme os riscos do automobilismo... Precisa se liberar de certos preconceitos. O esporte não admite a prisão a velhas praxes e convenções." - disse em uma entrevista nos anos 30.

Em 5 de maio de 1935, a piloto participou da Prova Rampa do Ascurra, no bairro do Cosme Velho, serpenteando pelo morro aos pés do Cristo Redentor. Fazer curvas tão fechadas com seu Ford sedã era um tanto desigual frente às baratinhas dos concorrentes. Apesar de um imprevisto no meio da subida, Venina concluiu o itinerário - mas fora do tempo de classificação.

Ford transformado em monoposto

Venina já solicitara sua inscrição ao Automóvel Club do Brasil para participar do III GP do Rio de Janeiro, o Circuito da Gávea de 1935, que seria disputado no dia 2 de junho.
Com seu Ford já transformado em monoposto, ela chegou a treinar para a prova mais importante do automobilismo brasileiro da época, mas foi proibida de correr pelo marido. O argumento: "ordens médicas".

Largada do Rallye de Regularidade -1935

Não tendo participado da prova da Gávea, Vanina participou meses depois de um Rallye de Regularidade, o primeiro no Rio de Janeiro, em 15 de setembro de 1935. Foi um percurso surpresa de 138 quilômetros, sob forte temporal, que deu uma volta completa pela cidade: saiu da Feira de Amostras (no Centro do Rio, onde hoje fica a Esplanada do Castelo), tomou o rumo da Tijuca, acompanhou a linha do trem até Campo Grande, voltou por Ilha de Guaratiba, Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Copacabana, até a chegada, no mesmo ponto da largada.

Mais duas senhoras participaram da prova: Irene Moscozo e Celia Seabra, e Venina, novamente, mostrou seu valor com um honroso 5º lugar, entre 50 participantes.

Em 2 fevereiro de 1936 seria disputado o Quilometro de Arrancada, na Avenida Epitácio Pessoa (que margeia a Lagoa Rodrigo de Freitas).
O nome da corredora chegou a constar entre os inscritos para a prova promovida pelo Automóvel Club do Brasil, mas logo veio um pedido de retificação.
"
Venina Piquet, a conselho médico, se encontra em uma estação de repouso, estando a mesma proibida de segurar no volante". (Diário Carioca). Seu médico, Dr. Arnaldo Barata, a proibira de dirigir automóveis.
"- Se um simples passeio lhe era prejudicial, uma corrida, por menor que fosse, não lhe traria benefícios". Afirmou o marido de Venina ao Diário Carioca, sem entrar em detalhes sobre o problema de saúde da corredora.

Mas a imprensa continuava a derramar-se em elogios: "Possuidora de muito sangue e não menos habilidosa no volante de seu V8, madame Venina tornou-se credora da admiração e estima de nossos esportistas", alardeou o Diário Carioca.

Em junho de 1936, veio mais uma esperança de que Venina corresse no Circuito da Gávea. A participação da francesa Hélle Nice, que se tornou  a primeira mulher a participar da prova, deve ter mexido com o ego da brasileira.
Venina compareceu à comissão esportiva do ACB acompanhada do piloto Henrique Ré, a  princípio, ambos correriam no mesmo Marmon, revezando-se na direção ao longo das 25 voltas do percurso.

Veio então um convite para formar dupla com o piloto João Enrico, que tinha uma Bugatti de corridas e era grande admirador de Venina.
No ano anterior, essa Bugatti abandonara o GP do Rio de Janeiro por uma pane mecânica. Para consertar a "barata", foi chamado José Santiago, preparador do Ford de Venina até a vitória no Quilometro Lançado, na Rio-Petrópolis. Vieram, contudo, seguidos atrasos.
"Amanhã a Bugatti estará pronta..." , e a promessa nunca se cumpria, até que não foi mais possível participar dos treinos eliminatórios e nem participar da Gávea de 1936.
"- Atribuo o gesto de José Santiago ao receio que, não só ele, mas também outros volantes, têm da minha concorrência. Paguei adiantadamente pelo serviço e, muito embora avisasse que havia urgência no trabalho, não me foi dado o carro a tempo de disputar as eliminatórias." - acusou Venina
O bate-boca entre Venina e José Santiago foi parar nos jornais e terminou em ameaça de processo por difamação:
"- Não tenho qualquer compromisso com essa corredora. Para provar a minha inocência, lançarei mão dos recursos extremos." - ameaçou Santiago, muito melindrado.
Fato é que foi a francesa Hélle Nice - e não a brasileira Venina Piquet - quem se tornou a primeira mulher a correr no Circuito da Gávea.

Daí em diante não encontramos mais registros da participação de madame Piquet em corridas. Provavelmente ficou desgostosa demais para continuar no automobilismo esportivo e encerrou sua curta (e brilhante) carreira com três vitórias em seis provas disputadas.

Somente em fevereiro de 1942 Venina voltou às páginas dos jornais.
O Brasil estava para declarar guerra ao Eixo e Venina enviou uma carta ao ditador Getulio Vargas oferecendo-se para instruir as mulheres brasileiras a dirigir ônibus, tratores e ambulâncias, para que pudessem participar mais ativamente do esforço de guerra.
"- Olhemos para as mulheres inglesas e americanas (...) Para elas, o trabalho não é sacrifício (...) Em vários trabalhos que eram privilégio dos homens, iremos encontrar a mulher inglesa e americana. No campo, manobrando tratores e arados. Nas cidades, dirigindo ônibus, ambulâncias, bondes, elevadores e automóveis de praça, bem como nas fábricas de munições, de aviões e de tanques... "

Na carta a Getulio, Venina lembrava de seus antepassados mi
litares: "(...) filha de Justiniano Ferreira Piquet, capitão de corveta, sobrinha do almirante Luiz Maria Piquet (Barão de Santa Maria - um dos heróis da passagem do Humaitá). Aguardo as ordens de V. Exa."

Pelo visto, tais ordens nunca chegaram.

O sobrenome Piquet só voltaria a ser associado ao automobilismo décadas depois, graças a Nelson Piquet, tricampeão mundial de Fórmula 1 nos anos de 1981, 1983 e 1987. Consultados, Nelson e seu irmão Geraldo dizem desconhecer qualquer parentesco com a pioneira Venina Piquet.
 

TABELA DE PARTICIPAÇÕES E RESULTADOS  (Colaboração de Ricardo Cunha)

Data

Prova

Carro

Classificação

21/10/1934

500 Metros de Arrancada - Recreio dos Bandeirantes (RJ)

Ford V8

2

1º na  Cat. Turismo

08/12/1934

Circuito da Ilha do Governador (RJ)

Ford V8

2

1º na  Cat. Turismo

16/12/1934

Criterium Carioca de Velocidade - Av. Vieira Souto

Ford V8

2

5º na  Cat. Turismo até 4.000cc.

31/03/1935

Quilometro Lançado Estrada Rio - Petrópolis

Ford V8

2

Prova cancelada e adiada

14/04/1935

Quilometro de Arrancada Rio - Petrópolis

Ford V8

2

na Cat. Turismo até 3.600cc

05/05/1935

Ladeira do Ascurra (RJ) - Subida de Montanha

Ford V8

2

Não terminou Cat. Turismo + de 1.500cc

15/09/1935

I Rallye de Regularidade (RJ) Ford V8 2

5º na Cat. Turismo

1
 

 

 

  
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