Voltar à página inicial

Página acrescentada em 17 de março de 2018.  Atualizado em outubro de 2020.
 

Haroldo Vaz Lobo

Nascimento: 06/10/1926  -  Falecimento: 02/08/2008

 2007

Nasceu em Curitiba (PR) como Haroldo Guimarães Bastos Vaz Lobo, filho de Manoel Vaz Lobo e Dna. Idylia Guimarães Bastos Vaz Lobo, em 6 de outubro de 1926. Eram quatro irmãos, sendo ele o mais novo. Seu pai veio a falecer em 28 de novembro de 1931, quando Haroldo tinha 5 anos, deixando a esposa grávida e nasceu no ano seguinte (1932) mais uma irmã (Marly), passando então a serem 5 irmãos. Em 25 de fevereiro de 1935 faleceu a irmã Regina, voltando a ser 4 irmãos, mas ele não era mais o caçula.
Desde muito jovem teve atração pela velocidade motorizada, começando ainda adolescente (15 anos) a competir em corridas de motocicletas. No prefacio do calendário da Mahle Metal Leve de 2008 ele explica como foi:
“- ...comecei minha carreira ainda “guri”, como se chamam os garotos no sul... a equipe tinha medo de algum acidente com um menor de idade e fez uma exigência. Eu precisava obter uma autorização especial para correr. Minha mãe, dividida entre a preocupação com o filho e o perigo que representavam o veículo e as pistas da época, acabou sendo vencida pela minha insistência. Ela me questionava sobre o perigo e eu repetia, convicto, que não havia nenhum. Os colegas também ajudaram nessa missão de convencimento. Sem mais argumentos, ela assinou a carta autorizando minha participação nas provas. Segui minha carreira, e estou aqui, vivo, provando que ela acertou ao ceder aos meus apelos.”
Suas primeiras provas foram com uma moto NSU de 100cc na categoria até 120 cc. No ano de 1941 obteve uma vitória e três segundos lugares, sempre no Velódromo Boa Vista, no Bacacheri (Curitiba - PR)
Era muito bem quisto nas pistas e em 1947 já com 21 anos, mas ainda chamado de “o garoto”, participou em 1947 e 48 de categorias maiores com uma Victory 1.200 cc, e foi o vencedor em uma prova na categoria até 350 cc com uma B.S.A. em 2 de outubro de 1949 no Velódromo Boa Vista, no Bacacheri,
“Localizado em aprazível setor do arrabalde do Bacacheri, o Velódromo Bela Vista, conta com uma pista de 1.640 metros, atualmente em ótimas condições...” - Diário da Tarde (16/08/1948)
Depois disso só vamos ter notícias dele em 1953 como um dos idealizadores e incentivadores da criação de um clube para gerir o automobilismo no estado, fato que se concretizou em 9 de maio de 1953 com a fundação do Automóvel Clube do Paraná (ACP), mas não assumiu nenhum cargo na diretoria.
Há uma referencia no site www.automanianet.com.br de que durante algum tempo antes de começar a correr de automóveis ele levava, rodando, automóveis novos de São Paulo para uma revenda em Curitiba, onde ia aprimorando sua pilotagem.
Como em janeiro daquele ano estava programada a primeira prova automobilística de Curitiba, talvez mesmo do estado, Haroldo tratou de preparar um carro para o evento. Em uma época em que as cifras eram geralmente inatingíveis, Haroldo comprou um Ford Coupé 1940, em estado de novo. Em entrevista ao site Autoracing ele disse:
“- Quando comprei esse carro desmontei-o inteiro. Chamaram-me de criminoso. Era o melhor carro para preparar. Um 1937 era muito leve. Um 1934 pior ainda”.
A prova foi o “I Circuito Cidade de Curitiba” realizada em 18 de janeiro e tinha Haroldo apontado como um dos favoritos, haviam 11 inscritos e a bandeirada de largada foi dada por Chico Landi.
“Pelo seu valor, são apontados como grandes favoritos, os volantes: Haroldo Vaz Lobo e Euclides Bastos (Perecera). Ambos deverão correr com carros adaptados, não se sabendo com positividade qual deles vencerá...” - O Dia (20/01/1953)
Mas nos jornais só aparecem os três primeiros colocados e Haroldo não está entre eles. “Perereca” venceu.

Comemorando a vitória
Calendário Metal Leve 2008

Em 1953 aparece no noticiário Haroldo participando de algumas gincanas automobilísticas com um carro Mercury, e também a notícia da participação dele no “Grande Premio Joinville” (SC) em 8 de março, mas só há a indicação do vencedor: Euclides Bastos (Perecera), a classificação de Haroldo é desconhecida.
Em outubro participou e venceu a prova “Edmundo Dal Lago” categoria até 4.000 cc no “Circuito de Guabirotuba” (Curitiba - PR) ao volante de um Morgan 3.000cc, e poderia ter vencido também a terceira prova do programa: “Centenário da Emancipação Política do Paraná” para carros adaptados (força Livre).

A prova de Força Livre quase vencida também
Fonte: Calendário Mahle Metal Leve 2008

“O volante Haroldo Vaz Lobo, que foi o vencedor da segunda prova, foi o que mais impressionou a todos, pois talvez que se não tivesse rebentado as borrachinhas do freio de seu carro, teria vencido também a terceira prova, uma vez que vinha até a altura em que se deu o acidente, na dianteira e com boa diferença...” - Paraná Esportivo (12/10/1953)
Descendo a rua Mal. Floriano em direção à avenida que hoje é chamada Linha Verde, ficou sem freio ao cruzar a linha férrea quando arrebentou um flexível do freio da sua carretera Ford Coupe 1940 nº5, vendo que não faria a curva à esquerda que estava próxima, ele e seu co-piloto acenaram desesperadamente para a multidão que se aglomerava nesse ponto para que abrisse caminho, notando que algo de anormal acontecia, o povo correu e a carretera passou direto, indo parar distante, sem atropelar ninguém. Mas o destaque da prova se deu na cerimônia de entrega dos prêmios quando Haroldo
“...cedeu, atenciosamente, o troféu que lhe coube: “Edmundo Dal Lago”, à viúva daquele grande companheiro, lamentavelmente desaparecido em acabrunhador desastre” - Paraná Esportivo (14/10/1953)

II Circuito do Tarumã com José Vera
Fonte: http://ruiamaraljr.blogspot.com.br

1954, Adir Moss, piloto de carretera e vereador em São José dos Pinhais, além de seu amigo, o convidou a participar de uma prova no Dia de Reis na cidade. Ele relutou, mas “...devido a persistência do convite... concordando que participaria com a condição de numa eventual vitória, o premio seria destinado ao segundo colocado, pois à ele interessava somente o esporte em primeiro plano e com elos de amizade...” Pois bem, participou e venceu, e o premio foi para Paulo Vaccari que chegou em segundo. Adir Moss chegou em 4º lugar.
Ainda em 1954 abandonou a “I Prova Paraná Esportivo”, Curitiba-Ponta Grossa, ida e volta, com o dínamo quebrado (abril) e foi 4º lugar no “I Circuito do Tarumã” (Curitiba - PR) (maio), ambas com sua carretera Ford Coupe1940.
No “II Circuito do Tarumã” realizado no local da Exposição Internacional do Café e em prol da Campanha Nacional do Câncer Haroldo venceu com uma carretera Chevrolet de seu amigo José Vera, que atuou como co-piloto.
Três meses depois da primeira prova no Tarumã ele venceu novamente, o agora “III Circuito do Tarumã” com sua carretera Ford 1940 nº 5 (agosto).
Na realização do “I Circuito Cidade São José dos Pinhais” participou e venceu nas duas categorias: Turismo, em dupla com Cirilo Previde com Ford nº 17, e Força Livre, em dupla com Carlito Kumel com sua carretera Ford 1940 nº 5 (novembro).

1955, foram três provas:
“II Prova Paraná Esportivo”, Curitiba-Ponta Grossa, ida e volta, abandonou na 1ª parte da prova com o motor fundido de sua carretera Ford nº 5 (maio).
“Volta do Passeio Publico”, chegou em 5º lugar (setembro).
“II Circuito Cidade São José dos Pinhais”, 2º lugar fazendo dupla com Cirilo Previde em sua carretera Ford, dessa vez com o nº 2 (dezembro).

1956, foram só duas provas:
“III Prova Paraná Esportivo”, Curitiba-Ponta Grossa, ida e volta, 4º lugar na categoria Força Livre com sua carretera Ford nº 5 (setembro).
“I Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com Rosalvo Mansur (SP), chegaram em 20º lugar em sua carretera Ford nº 58 (novembro).

Volta do Passeio Publico - 1955
Fonte: AutomaniaNet
Mil Milhas 1956
Fonte: Diário do Paraná
 Antes da V Mil Milhas Brasileiras (1960)
Raul Wigner, Breno Fornari, Haroldo Vaz Lobo
Fonte: http://ruiamaraljr.blogspot.com.br
Vistoria para V Mil Milhas Brasileiras
Fonte: http://ruiamaraljr.blogspot.com.br

1957, foi uma única prova:
“II Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), em dupla novamente com Rosalvo Mansur (SP) em sua carreera Ford nº 58 (novembro). Não terminaram, fundiu motor na 10ª volta quando estavam em 4º lugar, mas, fora da prova, cedeu peças de sua carretera para a dupla paranaense Euclides Bastos (Perereca) e Germano Sloeguer que acabaram chegando em 12º lugar.

1958, três provas:
“I Quilômetro de Curitiba” (Prova Automobilística Paraná Esportivo), realizada em 1 de fevereiro, que teria 10 categorias, mas em 3 delas não teve participantes inscritos, Haroldo participou em quatro delas: 1º lugar na 1ª Cat. com VW 1954; 7º lugar na 5ª Cat. com Ford 1951; 7º lugar na 8ª Cat. com Cadillac 1956 e 2º lugar na 10ª Cat. com sua carretera Ford Coupe1940.
“Circuito Festa da Uva” em Caxias do Sul (RS) se inscreveu mas sua carretera quebrou ainda nos treinos em Curitiba, nem foi à Caxias do Sul.
“III Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com Raphael Gargiulo (SP), chegaram em 20º lugar em sua carretera Ford nº 58 (novembro).

1959, participou apenas da “IV Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com José Cury (PR), chegaram em 12º lugar em sua carreera Ford nº 50 (novembro).

1960, foram três provas:
“Quilômetro Lançado” onde participou em duas categorias: 2º lugar na 2ª Cat.com DKW 1959 e 7º lugar na 5ª Cat. Com Mercury 1954 nº 116 (junho)
“500 Quilômetros de Porto Alegre” (RS) fazendo dupla com o gaúcho Júlio Andreatta da Escuderia Galgos Brancos, chegaram em 6º lugar em uma carretera Ford nº 6 (outubro)
“V Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com Júlio Andreatta (RS), chegaram em 13º lugar em uma carretera Ford nº 60 (novembro).

1961, o ano se iniciou com ele recebendo o título de Volante do Ano, eleito por jornalistas especializados.
Em corridas participou de duas:
“III Circuito Cidade São José dos Pinhais”, chegou em 1º lugar com sua carretera Ford Coupe1940 (janeiro).
“VI Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com Dante Carlan (RS), abandonaram, em sua carretera Ford com o nº 13 (novembro).

Fonte: Paraná Esportivo III Circuito Cidade São José dos Pinhais - 1961
Fonte: Correio do Paraná
III Circuito Cidade São José dos Pinhais
Fonte: Diário do Paraná
III Circuito Cidade São José dos Pinhais - 1961
Fonte: Ultima Hora

1962, iria participar de uma prova: “V Circuito Cidade São José dos Pinhais”, nessa prova a comissão organizadora exigiu dos participantes a assinatura de um compromisso de responsabilidade pela integridade física dos assistentes, fato que não foi aceito por três volantes: Haroldo, Paulo Buso e Dante Carlan (RS), mas os mesmos alinharam e foram retirados momentos antes da largada, causando confusão e decepção entre os torcedores.
Nesse ano, no mês de julho Haroldo recebeu uma suspensão:
“Vaz Lobo suspenso por um ano - A diretoria do Automóvel Clube do Paraná suspendeu por um ano o corredor Haroldo Vaz Lobo, alegando indisciplina cometida na ultima competição patrocinada pela entidade. A suspensão será de um ano, a contar do dia 24 de junho, data da competição que motivou a penalidade.” - Diário do Paraná (31/07/1962)

1963, em abril saiu a seguinte noticia:
“O corredor Haroldo Vaz Lobo que foi perdoado pelo Automóvel Clube d Paraná, depois da pena que sofreu deverá estar presente à prova 500 Quilômetros de Lajes (SC) a ser efetivada ainda este mês naquela cidade.” Diário do Paraná (5/4/1963)
Não há indicação do motivo do perdão, mas não participou dessa prova.

1964, apenas uma corrida;
“6 Horas de Curitiba”, participou em dupla com Claudio Gaya e chegaram em 9º lugar, com carretera Ford 1940 nº 6 (novembro). O circuito tinha os boxes no triângulo formado pela Rua Conselheiro Dantas, Avenida Kennedy e Marechal Floriano. Dali os carros seguiam pela Mal. Floriano, entravam pela Getúlio Vargas, desciam a Brigadeiro Franco, à direita na Rebouças, depois esquerda em frente ao Joaquim Américo, depois Brasílio Itiberê, Desembargador Westphalen e Avenida Kennedy, até entrar de novo na Mal. Floriano.

1965, participou de três corridas:
“Rodovia do Café”, BR-104, prova que fazia parte das festividades de inauguração da estrada pelo presidente Castelo Branco, acontecida em 25 de julho . Correu com carretera Chevrolet nº 60 em dupla com Francisco Zeni e chegaram em 8º lugar na geral (agosto).
“VII Mil Milhas Brasileiras”, em Interlagos (SP), fazendo dupla com Francisco Zeni, chegaram em 18º lugar correndo com uma carretera Chevrolet/Corvette nº 5 (novembro).
“II 6 Horas de Curitiba”, participou em dupla com Francisco Zeni, mas abandonaram por quebra da carretera Chevrolet nº 5 (dezembro). Essa segunda edição da prova ocorreu em um trecho da antiga BR-116, hoje Linha Verde, entre o Tarumã e o Jardim Botânico, ida e volta. O traçado tinha duas grandes retas e dois cotovelos, nada mais.

1966, participou novamente da prova “Rodovia do Café” com sua carretera, mas já contra muitos carros nacionais e renomados volantes nacionais, como Chico Landi, Camillo Christofaro, Jayme Silva e outros. Foi 2º lugar na categoria Força Livre e 10º lugar na geral (dezembro).

1967, participou de uma única corrida, a “Prova Governador Paulo Pimentel” mais conhecida por Subida da Serra da Graciosa realizada em 29 de janeiro.
Foi o segundo piloto a se inscrever e disse sobre o perigo a se enfrentar na Serra do Mar:
“- O perigo existe em qualquer prova e, acredito, já participei de provas mais difíceis, notadamente as que se realizavam na estrada velha de Curitiba-Ponta Grossa e que apresentavam maiores dificuldades. Além do sinuoso traçado da estrada, havia, ainda, as péssimas condições do leito da rodovia, de macadame.” - Correio da Manhã (29/01/1967)
“- Tenho certeza de que os paranaenses terão uma ótima colocação na 1ª Prova de Subida da Montanha, pelo conhecimento que têm do trecho.” - Correio da Manhã (29/01/1967)

1968, finalmente depois de 15 anos participando de provas automobilísticas Haroldo se inscreveu para a “Prova Gov. Paulo Pimentel” que inaugurou a Rodovia do Xisto em 4 de fevereiro e foi realizada entre Curitiba e São Mateus do Sul, ida e volta. Não concluiu o percurso com sua carretera Ford Coupe 1940 nº 8 (fevereiro). Parou de competir depois dessa prova com 42 anos de idade.

Haroldo foi casado e teve um filho, Marcelo, que começou no kart, mas logo a esposa disse:
“- Não o incentive que isso é perigoso.”, dizia Haroldo divertindo-se.

Em 2007 participou do evento “Carreteras Históricas” promovido em Passo Fundo (RS) por Paulo Trevisan do Museu do Automobilismo Brasileiro, onde foi um dos homenageados, e deve ter sido a última homenagem recebida por ele em vida, ano seguinte veio a falecer. Foi também uma das ultimas vezes que pilotou sua carretera.

2007 - Encontro Carreteras Históricas
Foto do autor
Carreteras Históricas - Passo Fundo (RS)
Foto do autor
Sua carretera sempre mantida em perfeitas condições
Fonte: Tribuna do Paraná oOnline

Começou a correr de automóveis em 1953, de motos havia começado em 1941, e só parou aos 42 anos, por influências externas:
“- Parei, mas não por mim, não me deixaram mais.” - disse durante aquele evento.
Em outra declaração disse:
"- O perigo andava ao lado, mas a coragem era o nome do meio desses pilotos. Em São Paulo as carreteras eram chamadas de cadeiras elétricas. Você tem que conhecer muito o carro ... Não era qualquer pessoa que podia correr com esses carros ...”

Haroldo morreu no dia 2 de agosto de 2008, um sábado, aos 82 anos, ele sofria de diabetes e foi vítima de uma parada cardiorrespiratória em sua casa em Curitiba.


Colaboração: Ricardo Cunha
 

 

 

  
VOLTAR AO TOPO DA PÁGINA