1961

Karl Iwers nasceu em 26/12/1906 em uma cidade  ao norte da Alemanha, próximo à Dinamarca (talvez a cidade de Kiel, onde nasceu seu sobrinho, Horst Dierks).
Desde jovem já se dedicava à mecânica, profissão que o levou, em 1929, aos 23 anos de idade, a cruzar o Atlântico como mecânico de bordo de um pequeno navio de navegação fluvial feito em um estaleiro próximo de sua cidade, com destino de Porto Alegre, esse barco tinha um motor de apenas 68 HP e mesmo assim os tripulantes o trouxeram numa longa travessia pelo Atlântico.

Karl gostou muito da cidade de Porto Alegre, e como tinha conhecimento em navegação fluvial começou a trabalhar e foi ficando, pouco tempo depois abre uma oficina que tempos depois se tornaria especializada em DKW. Conheceu e se casou com Dna. Elizabeth e em 1940, tiveram um filho, Henrique Iwers,carinhosamente apelidado de "Heinz". Juntos, pai e filho, protagonizam algumas belas páginas do automobilismo gaúcho.

Da oficina para as pistas foi um pulo. Antes mesmo da 2ª Guerra Mundial, em 1945, Karl já corria de moto, tem notícia no "Diário de Notícias" de 03/12/1940 dele chegando em 9º lugar na prova "Circuito Internacional do Bi-Centenário com uma moto DKW 
Passada a guerra, Karl continuou participando de corridas, de carro e com DKW, no Rio Grande do Sul e fora dele.

O registro mais antigo de um carro de Karl é do modelo DKW F-9 (nº 4), de 1951, mas não há noticias dele correndo com esse carro.
Na prova preliminar do "Cinquentenário do Grêmio", em 1953, realizada no Circuito da Redenção, em POA ele usou o  DKW nº 76, modelo F-89,

Horst Dierks, sobrinho de Karl passou a Segunda Guerra na Europa, vindo para Porto Alegre (RS) somente no inicio da década de 50, a convite de seu tio Karl Iwers. Aqui chegando começou a trabalhar com o tio em sua oficina, logo se tornando um excelente preparador, especializado em DKW, é claro!

Karl Ivers era um piloto destemido, de muita raça, e em 1953 na preliminar da "Prova do Cinquentenário do Grêmio" estando em uma disputa com o Renault "rabo quente" de Luiz Lazzarini, durante a prova caiu uma leve chuva e Iwers bateu com a roda traseira direita na guia da calçada, entortando a roda e o tambor de freio ocasionando o travamento. Como a tração era dianteira, ele seguiu assim mesmo e continuou até o fim da prova arrastando a roda travada mas chegando em 7º lugar, com motor de 2 cilindros e 600 cc. .

Quando a DKW Auto Union lançou o modelo F-91 Sonderclasse com um motor moderno e mais potente, de 3 cilindros e 900 cc. , Karl importou esse modelo em 1956, e em suas mãos esse carro tornou-se famoso em corridas de longa duração, tanto nos circuitos de El Pinar e Piriápolis, ambos no Uruguai, como também em Interlagos (SP), e em tantas outras corridas no Rio Grande do Sul.

Karl participou das seis primeiras edições da "Mil Milhas Brasileiras" em Interlagos (SP), de 1956 até 1961. Dessas, três ele fez em parceria com seu filho, e em uma delas obteve seu melhor resultado.

Na primeira "Mil Milhas Brasileiras" em 1956, Karl fez parceria com Eberhard Herzfeldt, pai de Egon Herzfeldt, que também virou piloto. Essa prova foi memorável pois correu num DKW F-89 de 896cc.contra carreteras com mais que o dobro de cilindrada.

Na seguinte, a segunda "Mil Milhas Brasileiras", 1957, fez dupla com Jorge Truda, e depois em 1958, nessa mesma prova, correu em dupla com Flavio Del Mese. Mas num acidente Del Mese destruiu o carro em uma espetacular capotagem na curva 2, no antigo traçado de Interlagos.

Na seguinte, a segunda "Mil Milhas Brasileiras", 1957, fez dupla com Jorge Truda, e depois em 1958, nessa mesma prova, correu em dupla com Flavio Del Mese. Mas num acidente Del Mese destruiu o carro em uma espetacular capotagem na curva 2, no antigo traçado de Interlagos.

I Mil Milhas - 1956	IV Mil Milhas - 1959

E no ano de 1959, na "Mil Milhas Brasileiras", dessa vez dividindo a pilotagem com seu filho Henrique ("Heinz") fizeram uma espetacular corrida, chegando em 4º lugar na classificação geral, a só 6 voltas do vencedor, a carretera de Catharino Andreattta e Breno Fornari, e a frente da Vemag, que participou pela primeira vez com carros próprios, 3 sedãs brancos, sem nenhuma inscrição com o nome da fábrica, apenas com os números dentro de um circulo preto, mas ainda uma equipe de testes, correram: nº60 - Paschoal Nastromagario/Eduardo Pacheco; nº62 - Cláudio Daniel Rodrigues/Flavio Del Mese; e o nº64 com Marinho/Eduardo Scuracchio.

Em 1960, de novo em parceria com seu filho "Heinz" com o DKW Nº 76, mas desta vez chegaram em 17º lugar e no ano seguinte, 1961, correram de novo em dupla e chegaram em 13º lugar, mas como em 1961 o Centauro Motor Clube havia criado uma divisão por categorias, eles também foram 3º colocados na Div. T-1.3. Uma ótima classificação.

Para 1960, novamente Karl preparou um carro resistente para suportar e vencer em sua categoria, a primeira prova "24 Horas de Interlagos", fazendo dupla com um dos maiores pilotos do Rio Grande do Sul: Diogo Ellwanger. Como se a vitória na categoria não bastasse, chegaram em 4º na classificação geral, tendo a frente três FNM/JK  (que diziam: "... de nacional só tinham a água do radiador e o ar dos pneus") nas três primeiras colocações, carros esses com motores de 2000 cc., o dobro do DKW. Essa classificação também colocou a dupla gaúcha á frente do Departamento de Competições da Vemag, fabricante dos DKW no Brasil, que contava com grandes nomes da pilotagem,: Christian "Bino" Heins, Eugenio Martins, "Marinho" de Camargo, Eduardo Schuraccio e outras estrelas da época, e também a frente de todos os Simca's Chambord, com motores V8 de 2,3 litros. A prova era promovida pelo GEIA, Grupo Executivo da Industria Automobilística, e reservada somente para carros produzidos no Brasil.

Em 1961, em outra grande corrida da dupla de pai e filho (Karl e "Heins") vencem na categoria a segunda prova "24 Horas de Interlagos". Repetem a dose do ano anterior, vencendo o já exitoso Departamento de Competições da Vemag, chefiado e organizado por Jorge Lettty e por sua excelente equipe de pilotos e correndo em  casa, Interlagos. Na classificação geral emplacaram o 7º lugar na geral e 1º na categoria T-1.5, em uma corrida com média de velocidade muito alta.

Os descendentes alemães foram os responsáveis pela expressiva demanda desses automóveis a partir dos anos 50. O concessionário da DKW no sul, era Karl Iwers, talentoso piloto e divulgador da marca. Detalhista e dedicado ao extremo, cercado de equipamentos apropriados (era na época o único proprietário de um dinamômetro particular no Brasil), Iwers se antecipou à própria Vemag na evolução do DKW.

Karl Iwers, apesar de sua aparência um pouco rude, era um homem gentil., de princípios, compreensivo e sabia lidar bem com seus cliente da oficina, e em corridas com as situações que se apresentavam.
Mostrando ser um homem aberto e compreensível, Karl abriu sua equipe e convidou alguns pilotos do Rio Grande do Sul, íntimos da marca DKW, para dividir com ele a pilotagem de seus carros. Assim Jorge Truda o acompanhou no Uruguai, em El Pinar, e na "II Mil Milhas Brasileiras"; Flavio del Mese na "III Mil Milhas Brasileiras"; o 'mestre' Diogo Ellwanger na "I 24 Horas de Interlagos" e Henrique Mutti Jr. também em El Pinar.
Constam ainda os registros de que Ebehardt Herzfeldt e Carlos José Gauer tenham pilotado seus carros.

Karl Iwers e seu filho Henrique nunca foram convidados a pilotar um carro da equipe Vemag, diferentemente de outras equipes: Simca e Willys que convidaram diversos pilotos do Rio Grande do Sul para pilotar seus carros de competição. Não creio que tenha feito falta...
Ele nem nunca recebeu apoio substancial da Vemag,às vezaes alguma pequena ajuda de Jorge Lettry, em toda sua trajetória esportiva, mesmo tendo uma agência autorizada e revendedor da marca.

Como bom alemão, era apreciador de uma boa cerveja e não raras vezes aos fins de tarde, após o expediente da oficina, reunia os amigos para saborear a bebida e ficar em infindáveis papos sobre corridas.

Infelizmente, aos 63 anos de idade, depois de ter feito milhares e milhares de quilômetros disputando corridas, até mesmo perigosas em diversas pistas, veio a encontrar a morte em um insólito e grosseiro acidente de carro, na rodovia que liga a cidade de Cachoeirinha a Gravataí, no dia 20 de julho de 1969, infelizmente não conseguiu ver um dos seus sonhos realizados, Tarumã, que só foi inaugurado em novembro do ano seguinte.

Por sua figura peculiar, por seu caráter e por tudo que significou na parte esportiva, defendendo e fazendo um pequeno DKW enfrentar adversários maiores e por vezes vencendo-os, assim como por ser um grande vencedor em sua categoria, mesmo sem querer tornou-se um ídolo. Criou na geração que se seguiu a sua, juntamente com o filho Humberto "Heinz" Iwers, uma  gama de pilotos defensores da marca DKW, cuja atuação perdura e é reverenciada até hoje por um grupo de antigos pilotos sob a bandeira dos Jurássicos. Não é a toa que se tornou conhecido como o "Papa dos DKW".