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Lulla Gancia


Nascimento:  05/02/1924  -  Falecimento:
24/06/2016

1963

Amalia Salvadori di Wiesenhoff Vallarino Gancia, mais conhecida como Lulla Gancia, era italiana, nascida em Turim, na região de Piemonte, no dia 5 de fevereiro de 1924, filha de Isidoro Salvadori di Wiesenhoff, vice-prefeito de Turim, e neta do conde Salvadori de Weissenhoff, do Tirol, na Áustria.
Ela não suportava ser chamada pelo nome de batismo, Amalia. Por coincidência, era o mesmo nome da mãe de Piero (sogra dela). “
Ela preferia o apelido que tinha desde criança e fazia questão de soletrar: Ele-U-Dois Eles-A”, lembra a filha e jornalista Barbara Gancia, em entrevista.

Piero Vallerino Gancia também nasceu em Turim, dois anos antes de Lulla. O bisavo dele, Carlo Gancia, em 1850 com o irmão Edoardo, fundou a vinícola Fratelli Gancia, que produzia bebidas como vinhos espumantes, além de Vermouth. Mais tarde, o espumante Asti ficou mundialmente conhecido.

Piero Gancia e Lulla eram da cidade de Turim, e lá se conheceram e se casaram, em novembro de 1947, tiveram um filho, Carlo Vallarino (1950) que nasceu em Canelli, província de Asti, na Itália.

Já com o primeiro filho Piero veio à América Latina (com a família) em 1951 para fabricar os produtos da Vermouth Gancia, empresa da família.  Inicialmente em Montevidéu (Uruguai), onde nasceu uma de suas filhas, Eleonora, a Kika, após pouco mais de um ano, em março de 1953, vieram para o Brasil e se estabeleceram em São Paulo, onde nasceu mais uma filha, Bárbara (1957).

1962 - Lulla Gancia dando  largada em Interlagos

Em janeiro de 1962 Lulla Gancia estava na Itália para o funeral do pai dela e quando soube que seu marido Piero havia decidido pilotar a Alfa Romeo Giulietta em uma corrida na pista de Interlagos exclamou:
"
- Você está louco! Temos três filhos, seu desgraçado!". Conta Carlo Gancia, filho do casal. 
Piero correu, em dupla com Celso Lara Barberis, famoso piloto brasileiro, a prova "12 Horas de Interlagos", no dia 25 de janeiro de 1962.

Pouco tempo depois Piero a convenceu a dar uma volta na pista de Interlagos, e a partir desse dia Lulla sempre  acompanhou Piero nas corridas, tomou gosto, Lulla gostou tanto da experiência, que a volta proporcionada pelo marido despertou nela o desejo de também participar de algumas corridas. Após umas aulas com o marido começou a correr com um dos carros da equipe que Piero formara no Brasil.

Dia 14 de dezembro de 1963, Lulla fez sua estréia em competições em uma corrida para mulheres de famílias de pilotos, foi a "Corrida do Batom". Nessa prova, a bandeirada de largada foi dada pela senhora Leonor Mendes de Barros, esposa do governador Adhemar de Barros.

Aparência é tudo...

Corrida do Batom, né.....

Alfa Romeo Giulietta

No meio, Dna. Leonor Mendes de Barros

Além dela, também participaram Marise e Leoni, irmãs de Cyro Cayres, e Maria Angélica, esposa de Ubaldo César Lolli. Leoni, com um Simca, foi a vencedora, seguida por Marise, com uma berlineta Interlagos. Lulla, com uma Alfa Romeo Giulietta, terminou em terceiro, à frente de Maria Angélica Lolli, Conceição Aparecida Brandi e de Edna de Souza.
"-
As mulheres são, talvez, mais medrosas ou mais conscientes, mas não "barbeiras" como os homens pretendem afirmar." - Jornal Correio da Manhã - 14/12/1963   

Ainda em 1965 participou do “I GP Rodovia do Café”, uma prova de estrada ligando Curitiba a Apucarana, ida e volta. Não teve muita sorte, devido as fores chuvas acabou capotando no Km.56, sendo obrigada a abandonar.

Pelas ruas de Brasilia ...

Fiat Abarth em ação

Em abril de 1966, a ousada Lulla, competiu na corrida "Mil Quilômetros de Brasília", em comemoração ao aniversário da capital da República, formando dupla com Felice Albertini, motorista da família e que também virou piloto ao participar de um curso de pilotagem patrocinado por Piero Gancia, que considerava importante para a segurança da família que o motorista tivesse a habilidade de um piloto.
Lulla e Felice, com um Fiat Abarth, chegaram em quinto lugar, na corrida vencida pelo marido, em dupla com Marivaldo Fernandes, conduzindo uma Alfa Romeo, marca que representava no Brasil.
Além de competir, Lulla também se tornou membro da equipe: "Escuderia Jolly Gancia", cuidando dos boxes e ajudando na cronometragem.

Com Graziela Fernandes

Lula Gancia de bandeirinha na Saída do Box

Em junho de 1966 se inscreveu para correr o "GP IV Aniversário APVC". Iria pilotar o Fiat Abarth mas uma pane elétrica logo na primeira volta a fez abandonar. Venceu Marise Cayres, irmã de Ciro Cayres e esposa de Bird Clemente, seguida de Graziela Fernandes, a única delas a seguir carreira no automobilismo.

Ela não participou mais como pilota, mas continuou participando ativamente do automobilismo, aqui, num clique de Kato Mercato, a vemos bandeirando a saída dos boxes na prova "12 Horas de Interlagos" em 1967.

A presença do casal Gancia foi marcante e importante para o automobilismo brasileiro.
A principal foi a participação no projeto de reforma do Autódromo de Interlagos (ainda não era José Carlos Pace, isso mudou em 1985), que desde a sua inauguração em 1940 não recebia obras novas.

Eles promoveram um almoço oferecido pelos pilotos ao, na época, prefeito de São Paulo, Brigadeiro José Vicente Faria Lima, para convencê-lo a reformar o autódromo. Ao final do almoço, Faria Lima concordou com a possibilidade de fazer a obra de reforma e torná-lo um parque desportivo de nível internacional.
O prestígio da família Gancia e o relacionamento que possuíam com o prefeito de São Paulo, motivou Lulla a comandar o projeto.

Stirling Moss visitando as obras

Ela foi nomeada coordenadora da obra e meticulosamente cuidou dos detalhes do projeto.
Iniciada em 1968, o autódromo só foi re-inaugurado em 1º de março de 1970 com a 5ª Etapa do Torneio Internacional "B.U.A." de formula Ford.
O esforço do casal Gancia junto ao prefeito Faria Lima abriu as portas para a projeção internacional dos pilotos brasileiros. Com a nova pista, mais o seu kartódromo, o sonho virou realidade, torneios internacionais começaram a ser promovidos no autódromo de Interlagos.

"
- Foi essa reforma que abriu espaço para que o Brasil acolhesse em 1972 sua primeira corrida de Fórmula 1, entrando no ano seguinte para o circuito mundial", lembra Carlo Gancia.
O redesenho do kartódromo de SP foi outro esforço pessoal de Lulla, ela transformou a pista em uma escola para pilotos como Ayrton Senna e Rubens Barrichello.

Em 1981, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 passou a ser realizado no Rio de Janeiro em Jacarepaguá, onde ficou até 1989.

Neste momento Piero, que era presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, se convenceu que o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 deveria voltar a São Paulo recorda Barbara. Luíza Erundina do PT, a prefeita de São Paulo, já havia comunicado a sua intenção de construir um Conjunto Habitacional na área de Interlagos.
"-
Meu pai não desistiu. Ele se encontrou com Erundina e conseguiu convencê-la da importância de trazer o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 a São Paulo", ressalta Carlo Gancia.

Em dezembro de 1989 deu-se início a uma grande reforma no autódromo, quando foram construídos 23 novos boxes, sala de imprensa, torre de cronometragem, centro médico e
a pista foi reduzida para 4.325 m. No ano seguinte o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 voltou a São Paulo onde continua até hoje.
Graças a Lulla e Piero Gancia o Brasil e São Paulo fazem parte do calendário da F1.

Lulla Gancia morreu no Hospital Albert Einstein, em 24 de junho de 2016, em decorrência de uma septicemia.

 

TABELA DE PARTICIPAÇÕES E RESULTADOS  (Colaboração de Ricardo Cunha)

Data

Prova

Carro

Classificação

14/12/1963 I Corrida do Batom - Interlagos (SP) Alfa Romeo Giulietta 25 3º lugar
14/03/1964 Prêmio Amilcar Laurindo Ribas - Turismo Grupo I - Interlagos (SP) Alfa Romeo Giulietta 25 Inscrita, mas não correu
19/06/1965 Corrida do Biquíni - Interlagos (SP) Alfa Romeo Giulietta 25 2º lugar
15/08/1965 I GP Rodovia do Café - Curitiba/Apucarana/Curitiba (PR) Alfa Romeo Giulia 29 AB
01/05/1966 II Mil Quilômetros de Brasília (DF) Com Felice Albertini Fiat Abarth 45 5º e 1º na T-1.3
12/06/1966 GP IV Aniversário da APVC - Prova Feminina - Interlagos/SP Fiat Abarth 45 AB

 


 

  
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