Uma visão dos nossos históricos anos sessenta e um pouco antes

Voltar  para  Página Inicial

Ir  para  "Lendas e histórias"

Pilotos:
Agnaldo de Goes Aldo Costa Alfredo Santilli Amauri Mesquita Antonio C. Aguiar Arlindo Aguiar Aroldo Louzada Bica Votnamis
Bird Clemente Bob Sharp Breno Fornari Caetano Damiani Camillo Christofaro Carlos Sgarbi Catharino Andreatta Celso L. Barberis
Christian Bino Heins Ciro Cayres Domingos Papaleo Eduardo Celidonio Emerson Fittipaldi Emilio Zambelo Ênio Garcia Eugênio Martins
Flavio Del Mese Francisco Lameirão Fritz D'Orey Graziela Fernandes Jan Balder Jaime Pistili Jayme Silva José Tôco Martins
Júlio Andreatta Luiz A. Margarido Luiz Carlos Valente Luiz Pereira Bueno Luiz Valente Marinho Niége Rossiterr Nicola Papaleo
Nilo de Barros Vinhaes Norman Casari Orlando Menegaz Nastromagario Pedro C. Pereira Piero Gancia Raphael Gargiulo Ricardo Rodrigues de Moraes
Roberto Gallucci Roberto Gomez Salvador Cianciaruso Toninho Martins Victorio Azzalin Vitório Andreatta Waldemar Santilli Zoroastro Avon
Preparadores e/ou construtores:
Anísio Campos Horst Dierks Jorge Lettry Miguel Crispim Nelson Brizzi Sergio Cabeleira Toni Bianco Victor Losacco
Pioneiros:
Ângelo Juliano Benedicto Lopes Bernardo Souza Dantas Chico Landi Chico Marques Dulce Barreiros Gino Bianco Haroldo Vaz Lobo
Henrique Casini  Hermano da Silva Ramos  Irineu Correa João R. Parkinson Kitty Fabri Manuel de Teffé Nascimento Junior Nilza C. Ruschel
Norberto Jung Raio Negro Sylvio A. Penteado Venina Piquet Villafranca      

 

 

Página acrescentada em 14 de setembro de 2025.
 

Sergio "Cabeleira"
(Sergio Gomes Martins)
por Paulo Roberto Peralta

1965

Sérgio Gomes Martins, mais conhecido nos meios automobilísticos por Sérgio "Cabeleira" trabalhava na Vemag (Veículos e Máquinas Agrícolas S/A), mais conhecida por DKW Vemag.

DKW F-93 em Poços de Caldas em 1959

Deve ter saído da Vemag em 1958 (?) quando passou a trabalhar em casa, e foi lá que trabalhou com Marinho Camargo, preparando seus veículos e testando-os em uma subida íngreme (Av. São Gualter) no bairro de Pinheiros, em São Paulo, que o grupo chamava de "dinamômetro" para medir desempenho.
Ele preparou o motor do DKW F-93 de Mário César de Camargo Filho (mais conhecido como "Marinho"), que venceu o "III Circuito das Águas em Poços de Caldas" (MG), em outubro de 1959.

Numa reportagem da Maxicar de março de 2015 Marinho respondeu ao Bird Clemente: "- Tenho grandes recordações do meu amigo Sérgio "Cabeleira" que foi um gênio, em se tratando de motores. Nós passamos noites e noites mexendo nos motores do meu carro, e como você sabe, trabalhávamos nos mínimos detalhes, pois sempre fui muito exigente e ele era muito parecido comigo nesse ponto. O resultado de todo esse trabalho era gratificante. Só parávamos no momento em que tudo parecia estar perfeito.

"Cabeleira" era famoso por seu senso de humor e por dar apelidos criativos aos pilotos. Um exemplo clássico é o de Jan Balder, em outubro de 1959, durante a comemoração da vitória de Marinho no restaurante de Poços de Caldas:
"- Eu tinha 13 anos, em exatos 19 de Outubro de 1959, fui para uma corrida de rua em Poços de Caldas , em minha primeira participação por dentro das pistas, claro, nos bastidores.
O Marinho com um DKW F93 duas portas e motor do Sergio Cabeleira ganhou a corrida e a comemoração foi num bar restaurante na praça de Poços. Ali fiquei impressionado em sentar ao lado do campeão da prova e timidamente pedi um Omelete….(não estava muito acostumado com cardápio de restaurante) e alguém perguntou que era aquele menino, e o Cabeleira que já me conhecia olhou para o meu prato (o Omelete era maior) e falou é o "Papa Omelete", e o apelido ficou..."
  (Jan Balder no Conexão Saloma)

Carta de Bird Clemente para Luiz Antonio Greco:
"- Jamais poderíamos imaginar que naqueles tempos, quando a Vemag produzia os primeiros DKW, que ela descobriria o interesse dos brasileiros pelas corridas de automóvel, criando o primeiro departamento de competição. Jorge Lettry, seu futuro rival, era o chefe, eu e o Marinho, os primeiros pilotos de fábrica e você, funcionário do departamento de compras da Vemag, gravitava por ali, chegando a pilotar um de nossos carros na Mil Milhas. O seu apelido era “Gazetinha”. Não esqueço as suas primeiras jogadas se unindo ao genial Sérgio Martins Gomes, o “Cabeleira”, seu amigo e parceiro, que você usava como preparador, lucrando com a venda dos fantásticos DKW-Vemag."
(Bird Clemente no site da Revista Racing na seção Cartas do Bird, em 2012)

Manteve uma oficina no bairro de Pinheiros, em São Paulo, onde realizava preparações avançadas de motores DKW, muitas vezes à noite, com ênfase em organização e limpeza impecáveis nas bancadas de trabalho. Entusiastas e pilotos frequentavam o local para acompanhar os processos:
"- Sergio Martins Gomes (O Cabeleira) - ...eu fui varias vezes lá na oficina dele em Pinheiros acompanhar o fechamento dos motores DKW – e sempre de madrugada - bancadas todas limpinhas, oficininha na garagem da casa dele… Lembra-se disso ? Quem me levou lá foi o Hugo Porta, meu amigo das Perdizes. Foi ele que emprestou um DKW com porta malas de pano! (para aliviar peso) para o Bird Clemente correr, no inicio da carreira dele…..eu estava junto, acompanhei tudo bem de perto."  (Luiz Evandro "Águia" no Conexão Saloma)

Em 1960, o gaúcho Flavio Del Mese veio à São Paulo e como estava sem carro pois a Equipe Vemag não disponibilizou carro para toda a equipe, então Sérgio "Cabeleira" apresentou Del Mese para Roberto Gallucci, que tinha um DKW (que provavelmente era o "Cabeleira" o preparador) e estava sem parceiro para correr a "I 24 Horas de Interlagos":
"
- ... foi um carro preto e dele, não da fábrica. Acho que era uma prova com o grupo1 e era tão certa a vitória de um DKW naquela categoria, que não havia razão para a fábrica entrar com tudo.... Ele decidiu largar e, umas 10 ou 15 voltas depois, quebrou a ponta de eixo traseira esquerda..." - Depoimento de Flavio Del Mese no livro 24 Horas de Interlagos".

Em 1963, ou um ano antes, 4 amigos automobilistas: Anísio Campos; Joaquim "Cacaio" Mattos; Bruno Barrancano  e Sergio "Cabeleira" abriram uma loja no bairro de Pinheiros em São Paulo, a "Corsa", que funcionava como preparação e boutique automobilística.

Quando em 1963 José Carlos Pace resolveu estrear no "II Prêmio Aniversário ACESP", em 29 de junho, pegou o DKW do pai e pediu ajuda aos 4 amigos, era uma sexta-feira e como Sergio "Cabeleira" que conhecia DKW como poucos, preparou o caro de Pace e logo no primeiro dia de treino ele já fazia a volta mais rápida. Isso chamou a atenção de Luiz Antônio Greco, que na noite desse dia foi à casa de Anísio e insistiu que "Moco" trocasse o DKW por um Gordini da equipe Willys:
"- O Pace havia feito um excelente treino com o DKW em Interlagos. Andei ao seu lado a tarde toda e ele estava muito afiado. À noite, quando o Luiz Greco bateu na porta de minha casa querendo seu passe, não tive duvidas: negociamos por equipamentos para nossa loja." (Anisio Campos no livro do Jan Balder)
Na corrida quem usou o DKW foi Ângelo Pace, seu irmão.

Da Corsa quem mais pilotava era Bruno Barrancano, geralmente fazendo dupla com Roberto Nabuco; Antonio Castrucci ou sozinho.
Algumas provas que participou em 1964, talvez com o preparo do sócio Sergio "Cabeleira, não sei, mas acho bastante provável.
*20 de julho, "6 Horas de Velocidade" com Roberto Nabuco - DKW nº 36 -10º lugar
*18 de agosto, "1000 Km de Interlagos" com Antonio Castrucci - DKW nº  36 - Tinha o 3º lugar garantido mas faltando 3 voltas, capotou.
*10 de outubro," Premio Simon Bolivar" sozinho - DKW nº 36 Não disponível.

1964 DKW Malzoni GT

Lançado em 1964 o DKW Malzoni GT deu origem a um carro vencedor.
No galpão dos tratores da fazenda de Rino Malzoni, um chassi de Belcar teve o entre-eixo encurtado de 2,45m para 2,22m. Pedro Molina, artista da chapa, transformou o desenho de Rino numa carroceria de metal. Seguiam a escola italiana do início dos anos 60, e a inspiração vinha, principalmente, da Ferrari 250 GT Berlinetta SWB.
Entortava-se o pescoço para entrar na cabine baixinha e apertada. As janelas laterais de correr e a envolvente vigia traseira eram de acrílico. No interior, o mínimo possível. Aos instrumentos originais do Belcar foi acrescentado um conta-giros Veglia. Um volante esportivo, um singelo santantonio e pronto.
A mecânica foi preparada na concessionária Vemag que Marinho tinha em São Paulo. Era um motorzinho dois tempos de três cilindros, e quem montou esse primeiro motor foi "Sérgio Cabeleira", mecânico que jamais havia pisado num autódromo. Tudo era feito à noite, nas horas vaga
"- A mecânica foi montada na concessionária Vemag que eu tinha em São Paulo. Era um motorzinho dois tempos de três cilindros, fuçado para render algo entre 85cv e 88cv - ótima potência para a cilindrada de 1.000cm. Fizemos a noite, nas horas vagas. Quem montou o primeiro motor foi o Sérgio "Cabeleira", mecânico que nunca pisou num Autódromo." (Marinho, no site Extra.Globo de dezembro de 2014)

"Cabeleira" foi indicado para receber o "Premio Victor", da Editora Abril, do ano de 1964 na categoria de Melhor Mecânico.
Foram indicados, além dele: Luciano Bonini, Jorge Lettry e Nelson Enzo Brizzi, fcou em 4º lugar, o vencedor foi Luciano Bonini.

Jornal do Brasil - março de 1965

Em 13  de março de 1965 saiu uma noticia no "Jornal do Brasil" de que "Cabeleira" era entendido e colecionador de peças de folclore. Não consegui confirmar.
Em 19 de Maio de 1965, nasceu o filho de Sergio "Cabeleira", acho que o único: Gustavo Gomes.

No " I GP Rodovia do Café" (Curitiba-Apucarana-Curitiba/PR),  em agosto de1965 Marinho correu com o DKW  Malzoni GT, completando a prova à uma velocidade média de 151 Km/h em 4º na geral, mas 1º na categoria protótipos:
"- Os meus melhores momentos junto com o Sérgio Cabeleira foram quando fizemos a corrida Curitiba-Apucarana que mesmo sendo uma prova de altíssimo risco, pois parte dela foi com garoa, com uma média horária muito alta, ele, corajoso e grande companheiro, me dizia: “baixa a bota caipira!” (Maxicar - março de 2015)

DKW Piquet - 1966

DKW PIQUET GT 1966
Cristiano Piquet Carneiro, estudante de arquitetura e desenho industrial, tinha um sonho: construir, ele próprio, um automóvel... E começou a fazê-lo partindo de um DKW com chassi encurtado, para chegar a uma `Berlineta´ de dois lugares.  Carroceria era em fibra de vidro.
O estudante, primo de Nelson Piquet, veio a falecer num acidente e sua família continuou o projeto para homenageá-lo:
"- Conheci este projeto na década de sessenta quando o GT Piquet foi enviado do Rio à São Paulo pela família do seu criador, pintado azul médio e interior cognac ... muito estiloso e lindo !! Veio com o propósito de instalação do acionamento de cambio de engates universal no assoalho como seria mais condizente para um GT !! Isto aconteceu nas instalações da oficina do Sergio Gomes Martins ... Experimentamos, como sempre fazíamos, lá no "dinamômetro", era como chamávamos a subida da Av. São Gualter ..." - (Comentário de Aldo Santos Oliveira no site revistacolecionismobr)

BMW de Maks Weiser em Goiania - 1968

Em 1968 tem uma noticia de que o piracicabano Maks Weiser, Dekavezeriro de carteirinha, mas que tinha uma BMW de passeio, pediu ajuda a Chico Landi, na época sócio da CBE (revendedora BMW), para colocá-la em uma corrida. Chico respondeu que emprestaria um carro mais adequado e mandou Sergio "Cabeleira" levar, a corrida era em Goiânia (GO) (então ele já devia ter deixado os DKWs para trás e trabalhava com os BMWs).
"- O carro chegou em Goiânia pelas mãos do "Cabeleira" na véspera da corrida, não deu tempo de testar o carro. A corrida era em uma avenida de duas pistas, ia por uma pista e voltava por outra. Praticamente não tinha curva, só reta. O prefeito resolveu consertar o asfalto, não houve treino, sortearam os carros para a largada. O meu era o décimo sétimo carro a largar em 32 carros. Domingo de manhã foi dada a largada e eu levei um susto pela forma como andava o carro. Era um BMW preparado para competição. Depois da terceira ou quarta volta eu já era o primeiro colocado. A partir daí, foi controlar a prova para ir ao final, mas numa das freadas, para reduzir a marcha, o pedal da embreagem foi e não voltou. Parada nos boxes e Sergio "Cabeleira" viu que um dos suportes do motor havia quebrado. Fiquei seis minutos mais ou menos no box, consertaram, voltei e ganhei a corrida!" (Maks Weiser em uma entrevista a João Nassif) em 2005)

No ano de 1969 Agnaldo de Góes Filho comprou de Eugênio Martins e Chico Landi, a CBE (importadora e distribuidora BMW), mudando a razão social para CEBEM, tornando-se também o chefe da equipe que corria com carros da equipe da loja, e Sergio "Cabeleira" continuava trabalhando com os BMWs mesmo a loja tendo mudado de dono.

BMW "Esquife" Ciro Cayres e Jan Balder - 1970

Em 1970 na primeira prova após a reabertura de Interlagos (1500 Quilômetros de Interlagos/SP) Agnaldo colocou dois carros para disputar, e resolveu cortar a capota de um deles, o que Cito Cayres ia pilotar,o transformando em spyder. Ciro talvez relembrando o tempo da Mecânica Nacional dizia:
"
- ...o negócio é correr com a cuca de fora...", 
Como nem todos concordavam, mas ele era chefe, pegou um arco de serra  de aço e começou a cortar as colunas da capota, aí virou para o "Cabeleira" e disse:
"- Dei a largada, o resto é com vocês...".
"- Com a capota removida, foi necessário reforçar a estrutura do monobloco e recalibrar a suspensão. Colocaram uma cobertura em alumínio, deixando apenas o cockpit para o piloto. Como segurança foi instalado um arco de proteção, simples e bem leve, que o "Cabeleira" batizou de "Santo Antonio sem-vergonha". (Jan Balder, em seu livro)

Mais tarde, na década de 1970, atuou como comissário de provas na Federação de Automobilismo de São Paulo (FASP), onde continuou envolvido no esporte, inclusive no departamento de ralis.

Ele é lembrado como um "gênio" dos bastidores do automobilismo, contribuindo para o amadorismo virar profissionalismo no Brasil. Faleceu em data não especificada nas fontes consultadas, mas é referido como "saudoso" em relatos a partir dos anos 2000.

 


VOLTAR AO TOPO DA PÁGINA
ou
VOLTAR À PÁGINA INICIAL